Os vários indicadores de desempenho da indústria da construção mostram que, após a grande queda dos últimos três anos, tem havido estabilização e até alguma recuperação, embora em patamares ainda muito baixos.
Este foi dos aspectos destacados pela coordenadora de projetos da construção da FGV, Ana Maria Castelo, em sua apresentação feita na Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP, em 19 de setembro.
A desaceleração da queda refletiu-se nas duas últimas Sondagens da Construção, realizadas em agosto pela FGV, uma em conjunto com o SindusCon-SP e outra com a CNI: a percepção dos empresários e executivos sobre o desempenho das construtoras, depois de vários trimestres estabilizada em patamar negativo, ficou menos pessimista – “houve uma despiora”, comentou Ana Maria.
Segundo a economista, os segmentos que têm colaborado para este novo cenário são aqueles ligados a programas de governo: Minha Casa, Minha Vida e PAC. No segmento imobiliário, tem havido uma ligeira recuperação na capital paulista, com maior participação de unidades de 1 e 2 dormitórios. A captação da Poupança voltou a ser positiva. “Mas ainda são movimentos sem força para crescer em função dos juros ainda elevados do crédito imobiliário, da queda da renda e da persistência de incertezas”, observou.
Em relação à infraestrutura, Ana Maria reafirmou o consenso geral de este ser o setor que pode efetivamente alavancar o crescimento sustentado da economia. Entretanto, acrescentou, permanece a questão de como financiar sua expansão, diante da grave situação fiscal, da redução dos desembolsos do BNDES e da falta de definições regulatórias e de financiamento para a atração do capital externo.
Para o vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan, “parece que o país está fechado para balanço. Do ponto de vista econômico, 2017 acabou com um desempenho bem ruim da construção civil. Para 2018 deveremos ter um ano sofrido devido às eleições e ainda não apareceu uma força política para aglutinar os esforços em torno de um projeto que faça sentido”, afirmou.
Para Zaidan, “falta mostrar que a casa está arrumada para atrair o investidor estrangeiro” que está reticente diante do risco, da incerteza política “e até da insegurança física” (referindo-se ao aumento da violência). “Temos bons fundamentos, recursos naturais, enorme mercado interno. Sou otimista no longo prazo, conseguiremos avançar quando pudermos colocar roupa limpa no Brasil.”
Segundo o vice-presidente, as empresas cortaram custos e provavelmente sofrerão as mesmas “dores do crescimento” do período anterior à crise, quando enfrentarem uma recuperação sustentada da demanda.
Para Zaidan, a reforma trabalhista terá um bom efeito sobre os recursos do FGTS, na medida em que ela contribuir para a elevação do emprego formal.
Já o economista da FGV, Robson Gonçalves, alertou sobre a possibilidade de que a ligeira “despiora” se perca em 2018: o FGTS e subsídios de governo estão com possibilidades de expansão esgotadas e a LIG (Letra Imobiliária Garantida) sozinha ainda não será capaz de financiar a expansão imobiliária.
Gonçalves reafirmou que a saída está na atração do investidor estrangeiro para sustentar o crescimento e defendeu a adoção de uma proteção (hedge) cambial, para lhe dar a segurança de que conseguirá efetivamente o retorno ao seu investimento.