A rentabilidade de depósitos feitos em poupança com data após 3 de maio de 2012 deverá recuar de 0,3855% para 0,3715% ao mês, a partir de 19 de abril. Será o menor patamar desde que aplicação popular foi criada há 157 anos pelo imperador Dom Pedro II.
Com a taxa referencial (TR) atualmente zerada, e os depósitos em caderneta atrelados a 70% da taxa básica de juros (Selic), e a expectativa do mercado é que esse indicador de remuneração fique menor se o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidir amanhã (21/3) reduzir a Selic de 6,75% para 6,5% ao ano.
“A tendência é o juro declinar e o investidor conservador terá que acostumar com isso”, diz o coordenador de cursos da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Valdir Domeneghetti.
O professor completou que a inflação está controlada e a atividade econômica muito fraca, o que sinaliza juros baixos por um período mais prolongado. “Não há componentes para pressionar a inflação”, diz.
Nesse aspecto, se o rendimento da caderneta for para 4,55% ao ano, mas a inflação ficar ao redor de 3%, como também projetada pelo mercado na Pesquisa Focus divulgada ontem, a aplicação popular mostrará ganho real aos poupadores em 2018.
O educador financeiro da Dsop ABC, Edward Claudio Júnior, lembra que num horizonte de até 6 meses, a caderneta tende a ser a aplicação conservadora mais vantajosa para o pequeno investidor.
“CDBs de grandes bancos estão pagando 75% do DI, mas se considerado a alíquota de tributação do imposto de renda sobre ganhos, o rendimento líquido fica menor que o da poupança. O investidor só conseguirá taxas melhores se permanecer aplicado por mais tempo”, afirma.
O educador calcula que somente CDBs de instituições menores (bancos médios, pequenos e financeiras) com taxas entre 100% a 115% do DI, e de prazos maiores – dois ou três de permanência – proporcionaram ganhos mais atraentes aos investidores. “Até R$ 250 mil, essas aplicações tem a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito, o FGC”, explicou Edward Claudio Júnior.
Na avaliação do diretor-geral da Associação Nacional da Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord), Emílio Otranto, as instituições financeiras brasileiras estão capitalizadas – e devido a isso – estão pagando taxas mais baixas para captar recursos via papéis bancários. “O mercado está muito líquido [com excesso de dinheiro]”, argumentou o diretor-geral.
Otranto citou, por exemplo, que as letras de crédito imobiliário (LCIs) isentas do imposto de renda estão prometendo taxas entre 83% a 85% do DI, mas só para prazos maiores. “Um CDB de um ano, terá que pagar 112% a 115% do DI para compensar a alíquota de imposto de renda de 17,5% sobre os ganhos”, comparou.
Domeneghetti, da Fipecafi, alertou que a aplicação em fundos DI, fundos simples, ou em carteiras de curto prazo e risco soberano também podem estar com ganhos inferiores ao da poupança dependendo da tributação de impostos e das taxas de administração cobradas por gestoras e bancos. “Esses fundos com papéis pós-fixados em Selic ou DI já estão sofrendo com a queda dos juros”, afirma o professor.
Edward Júnior, da Dsop ABC, completa que somente cotistas com aportes iniciais maiores, entre R$ 30 mil e R$ 50 mil, conseguem taxas de administração melhores em fundos de investimentos. “Para o pequeno aplicador não há muita alternativa”, destacou.
Com base em números dos últimos 12 meses, que não refletem a expectativa futura, essa realidade de rentabilidade nominal baixa já era notável. A poupança rendeu 5,79% líquidos até 28 de fevereiro, ao passo que depósitos antigos, anteriores a 3 maio de 2012, tiveram retorno de 6,44%.
Os dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) registram que os fundos simples mostraram rentabilidade bruta de 7,71% em 12 meses até 28 de fevereiro, ou o equivalente a 5,36% líquidos após a incidência do IR, e com 1% ao ano de taxa (média) de administração. Ao passo que fundos de renda fixa de duração baixa (curto prazo) e risco soberano (concentrada em títulos públicos) tiveram rentabilidade bruta de 8,76%, ou 6,23% líquidos, na mesmo exercício de comparação.
Mudança cultural - Emílio Otranto, da Ancord, acredita que se os juros (DI e Selic) ficarem baixos por um período mais prolongado, o mercado passará uma mudança “radical” de pensamento. “O investidor só via rentabilidade nominal, e terá de observar o ganho real nas aplicações. Estamos vivendo uma nova realidade [de juros] que ainda não foi compreendida”, avisou.
Para os conservadores, a mudança cultural e de comportamento será manter uma reserva financeira [líquida] e a partir daí, alongar os prazos, em papéis de menor liquidez. “Dois ou três anos de permanência é um tempo razoável para o horizonte em renda fixa”, concluiu o diretor.