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Otimista, setor tenta se reinventar

17/04/2019 / Categorias Mercado imobiliário , Economia

(O Estado de S. Paulo - Economia - 17/04//2019)

Otimistas, sim, mas com cautela. A frase poderia definir a sensação dos empresários do setor imobiliário hoje. Em um momento em que os economistas têm revisado para baixo as previsões de crescimento do País para este ano e que o mercado financeiro ainda observa os desdobramentos da tentativa de aprovação da reforma da Previdência — considerada crucial para a volta da confiança e do investimento — o setor de imóveis espera um 2019 melhor do que o ano passado, enquanto tenta se reinventar.

Ainda que o desemprego elevado e as incertezas de Brasília deixem em dúvida muitos consumidores que gostariam de comprar um imóvel, o setor avalia que o ano deve ser positivo. Segundo especialistas, reunidos ontem no Summit Imobiliário Brasil 2019, a expectativa é de aumento no volume de crédito imobiliário e de boas oportunidades de negócios, sobretudo a partir do segundo semestre.

O presidente do Secovi-SP (entidade que reúne as empresas do setor), Basílio Jafet, diz que a expectativa é de crescimento de 5% a 10% nas vendas de unidades residenciais novas este ano, em relação a 2018. Para isso, no entanto, ele reafirma a necessidade de o governo do presidente Jair Bolsonaro aprovar a reforma da Previdência. “E a reforma não pode ser medíocre, não deve servir apenas para dizer que fizemos a lição de casa.”

Principal agente do financiamento imobiliário, a Caixa trabalha com um panorama de aumento na concessão de crédito para a casa própria. O vice-presidente do banco estatal, Jair Luis Mahl, diz que o desafio da empresa atualmente é utilizar de forma mais inteligente os recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

“Nós estamos otimistas. Os dados de concessão de crédito no primeiro bimestre foram bastante fortes, além das nossas expectativas”, avalia Gustavo Alejo Viviani diretor de Produtos de Crédito e de Recuperação do banco Santander.

Ele lembra que as expectativas a respeito da aprovação da reforma da Previdência são altas, mas que a demanda reprimida pelo consumidor nos anos de recessão e o enorme déficit habitacional do País trazem oportunidades de negócios para o mercado imobiliário.

Déficit. Uma reportagem publicada pelo Estado em janeiro apontava que esse déficit bateu recorde após os anos de recessão e que, na próxima década, será preciso construir 1,2 milhão de habitações por ano para suprir a demanda do brasileiro por moradia.

Um levantamento da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) revelou que os financiamentos imobiliários com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) bateram em R$ 59,96 bilhões nos últimos 12 meses até fevereiro — 34,8% acima que os 12 meses anteriores. A recuperação do volume financiado em 12 meses interrompeu um período de três anos de quedas consecutivas.

“A reforma da Previdência é um dos grandes desafios do governo, para destravar investimentos, mas é só uma parte do problema. O setor também precisa aproveitar para se reformar, aumentar a inovação em seus projetos e cobrar uma maior segurança jurídica, por parte do governo, para atrair investidores”, diz Alejo.

Já o secretário estadual de Habitação de São Paulo, Flavio Amary, considera que o momento é de poder público e empresários se unirem para ajudar o setor de construção civil. “O poder público sempre pode ajudar, porque o déficit habitacional está concentrado em grandes cidades, e essa questão deve ser contemplada por políticas públicas. Mas é preciso trabalhar em parceria com o setor privado, mapear todas as vezes em que o poder público burocratizou processos e acabou aumentando o déficit habitacional. A gente não pode demorar tanto para aprovar um projeto”, afirma o secretário.

O economista-chefe da Necton, André Perfeito, pondera que o mercado financeiro tem estado menos otimista com o futuro do País nos últimos meses. “O investimento ainda está amarrado, o empresário está entusiasmado com o governo, mas ele também precisa fazer contas. Não adianta nada a taxa de juros estar baixa, com os juros básicos em 6,5% ao ano, se a demanda e a ociosidade continuam fracas.”

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