(Valor Econômico – Economia – 16/09/2020)
Por Talita Moreira
Na época em que Ricardo Taveira fundou a Quanto, em 2017, o empreendedor era uma das poucas vozes no Brasil falando sobre open banking, um conceito então desconhecido no país. Agora, com o regulamento do Banco Central (BC) prestes a estrear, a fintech que ajuda a viabilizar o compartilhamento de dados dos clientes acaba de levantar US$ 15 milhões em sua primeira rodada de captação.
Por mais surpreendente que pareça, parte do dinheiro veio do Itaú Unibanco e do Bradesco, os dois maiores bancos privados do país e, em tese, os principais “alvos” do open banking - num indicativo de quanto evoluiu o debate sobre a tecnologia no mercado local. Outra parcela dos recursos veio de fundos como o Coatue, que fez seu primeiro investimento na América Latina, e Kaszek Ventures, que já aportou recursos em nomes como Nubank, Creditas e Quinto Andar.
O aporte foi levantado por meio de ações e dívida conversível, e dará aos investidores participação minoritária e presença no recém-criado conselho de administração da Quanto. Taveira continuará como controlador e executivo-chefe, com gestão independente. O investimento do Bradesco foi feito por meio do fundo Inovabra Ventures e o do Itaú foi um aporte direto do banco, submetido à aprovação do BC.
“No início, eu imaginava que uma solução como a Quanto ajudaria a impulsionar muito as fintechs. Mas, como a discussão foi amadurecendo rápido no Brasil, os bancos perceberam que o open banking é uma oportunidade para eles também”, afirma Taveira.
Uma parcela do dinheiro, segundo ele, será destinada à ampliação da equipe, que hoje soma 45 pessoas e deve chegar ao fim deste ano com algo entre 80 e 90 profissionais. Os recursos também ajudarão a Quanto a acelerar o desenvolvimento de produtos, em resposta a uma mudança que o fundador vê no comportamento do mercado. “Discussões que a gente esperava só em 2021 estão sendo antecipadas”, diz.
Segundo Taveira, bancos e fintechs estão se adiantando à regulação e já têm procurado fazer parcerias para distribuir produtos em outros canais, embora a primeira fase do open banking “oficial”, prevista para o fim deste ano, preveja apenas o compartilhamento de informações sobre produtos e serviços. Em todos os casos, as trocas de dados só podem ocorrer com o consentimento dos clientes.
A tecnologia da Quanto permite a distribuição de produtos financeiros de diversas fontes por meio da mesma plataforma de APIs. De acordo com Taveira, isso permite, por exemplo, que um site de imóveis ofereça crédito imobiliário de diversos bancos e fintechs e que o cliente possa ter acesso a essas opções de forma simples, autenticando, uma única vez, os dados de sua instituição financeira.
“O que temos visto no Reino Unido [onde o compartilhamento de dados foi implantado em 2018] é que a experiência do usuário faz toda a diferença para o sucesso do open banking”, diz.
Outra aposta da fintech é que o aumento da competição vai pulverizar a vida financeira dos clientes entre diversos bancos e fintechs - e, nesse caso, as instituições precisarão recorrer a dados de concorrentes para fazer uma análise de crédito acurada. Segundo Taveira, o open banking ajudará os participantes do mercado a ter acesso a esses dados e enxergar melhor o todo.