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Iniciativas sociais capacitam mulheres na área da construção civil


( Jornal do Comércio - Home - 21/05/2019)

Eduardo Lesina

As mulheres representam 51,6% da população brasileira. Entretanto, no mercado de trabalho, elas compõem apenas 44% dos trabalhadores no País. Mesmo com o crescimento da presença feminina nos mais diversos setores, as mulheres ainda são minoria nos segmentos tradicionalmente dominados pelos homens. No setor da construção civil, a disparidade de gênero reflete os números demonstrados, mas essa realidade tem sido modificada continuamente.

O aumento da participação feminina na área da construção reflete o momento de rápidas mudanças sociais. Em 2007, as mulheres atuando nos canteiros de obras somavam 109.006 trabalhadoras. Já em 2018, a presença feminina mais que dobrou no espaço da construção civil: cresceu cerca de 120% e atingiu o patamar de mais de 240.000 mulheres atuando, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa crescente no número de trabalhadoras do setor tem duas raízes importantes: o empoderamento feminino no mercado e a necessidade de mão de obra do setor.

Criada em Canoas, em 2006, a ONG Mulheres em Construção surgiu como um mecanismo de inserir o gênero feminino no mercado de trabalho, mas de forma geral. Com a necessidade da criação de moradias no Brasil (carente de 11 milhões de habitações, segundo o IBGE), a organização voltou-se ao ofício das habilidades da construção. A Cooperativa Casa Rosa, parte da organização, é composta por engenheiras, arquitetas e mulheres especialistas na prestação de serviços de construção, reformas, pinturas e acabamentos. A cooperativa, ainda no processo de estruturação, já tem funcionado em algumas etapas, mas o objetivo é garantir o processo e atender a grandes empreendimentos.

Com 13 anos de existência, a ONG já capacitou mais de 5 mil gaúchas nas especialidades: pedreiras; pintoras; azulejistas; ceramistas; eletricistas e hidráulica. Ainda entre as qualificações oferecidas pela organização estão aulas sobre desenvolvimento profissional, como trabalho em equipe, fomento de consciência social crítica e sustentabilidade na construção.

O boom do mercado imobiliário evidenciou a necessidade de trabalhadores ativos nas construções. Além disso, demonstrou a carência por uma mão de obra qualificada para a execução dessas funções. Diversas iniciativas de capacitação feminina começaram a surgir, ao passo que as mulheres representam, hoje, 10% da mão de obra do setor.

Esse é o caso de organizações como o projeto carioca Mão na Massa, as paulistas da iniciativa Mulheres que Constroem, as mineiras da Arquitetas Sem Fronteiras e a gaúcha Mulheres em Construção. Para Bia Kern, fundadora da ONG Mulheres em Construção, o avanço da presença feminina nas obras reflete a o início da mudança de pensamento do brasileiro: "a ideia de empoderamento feminino reforçou as políticas de ação para as mulheres, que também fez com que nascessem mais iniciativas na capacitação feminina".

Além disso, a ideia é ultrapassar as barreiras técnicas e práticas e construir um novo olhar sobre as participantes: "não buscamos só a capacitação da mulher na construção civil, mas sim um conceito que busca formar uma cidadã", explica Bia, referindo-se à autoestima e à independência feminina trazida na ocupação de espaços majoritariamente masculinos.

Para pôr em prática os aprendizados dentro da instituição, a ONG conta com parceiros importantes, como a construtora MRV Engenharia. "A parceria com a MRV é muito importante, porque foi a primeira construtora que viu esse lado social na inserção das mulheres no mercado", explica Bia. A construtora firmou a relação com a ONG através de um programa que estabelece uma relação de trabalho direto com as alunas, já com carteira assinada desde o primeiro dia de atuação: "é uma chance de aprender, dentro de uma obra, como funciona na prática os conceitos trabalhados".

Segundo Bia, no tempo de existência da Mulheres em Construção, o perfil das alunas que buscavam a qualificação estava muito atrelado às realidades sociais de determinados grupos, como mulheres de baixa renda que são chefes de família ou que o companheiro estava desempregado. Essa realidade mudou conforme a inserção das mulheres foi aumentando, e, hoje, há uma parcela expressiva de mulheres de classe média buscando a qualificação.

Embora a entrada gradual de mulheres no setor da construção já possa ser vista com maior facilidade, o distanciamento na remuneração, em comparação por gênero, ainda desfavorece as mulheres. Conforme os dados do antigo Ministério do Trabalho e Emprego, de 2016, as mulheres ganhavam 15% a menos do que os homens exercendo a mesma função.   

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