(Veja – Economia – 04/02/2021)
Em um ano marcado pelo distanciamento social e restrições em diversas atividades por causa da tentativa de conter o novo coronavírus, era esperado que o emprego sofresse um grande choque em 2020. De fato, a taxa de desocupação, de pessoas que não estão trabalhando e estão procurando emprego, subiu de 11,2% para 14,1% na comparação de novembro de 2019 com novembro de 2020, mas, em compensação, as contratações com carteira assinada subiram, o que é uma boa notícia. No ano passado, o país terminou o ano com 142 mil vagas CLT de saldo, após o próprio Ministério da Economia chegar a estimar 10 milhões de cortes logo no início da pandemia. O setor que mais contribuiu para isso foi o da construção civil, com 112.174 postos a mais que em 2019 entre admissões e demissões. O movimento é explicado pelo aquecimento imobiliário: com a taxa de juros baixa, o financiamento bateu recorde e fez com que essa atividade não parasse.
“Nós somos a indústria que mais emprega e ainda há muito espaço para crescer”, afirma Luiz Antônio França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). O saldo da construção civil no ano da pandemia é melhor do que o registrado em 2019, quando o setor criou 71 mil vagas — e o saldo do país foi de 644 mil.
No ano passado, os financiamentos de imóveis chegaram a 123 bilhões de reais, um crescimento de 58% em relação ao ano anterior, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Poupança e Crédito (Abecip). A taxa básica de juros está em mínimas históricas, de 2% ao ano e de crédito para imóvel girando entre 6% e 7% ao ano. Para este ano, apesar da expectativa do aumento da Selic por causa da pressão da inflação, os juros continuarão em patamares baixos e com pouco impacto na prestação dos financiamentos, impulsionando o movimento de mudança trazido, avalia a Abrainc. A expectativa de crescimento para 2021 dentro do setor é de 30%.
Na avaliação do setor, a resiliência já mostrada em outras crises, junto com a atual conjuntura econômica e social do país, foi determinante para o resultado. Por muitos anos impulsionado por programas habitacionais, como o antigo Minha Casa, Minha Vida (agora Casa Verde e Amarela), o segmento viu na demanda por imóveis de média e alta renda o ponto de desenvolvimento de 2020. “A fatia para baixa renda, entra crise e sai crise, se mostra resiliente pelo déficit habitacional no país. Mas a demanda de médio e alto padrão está diretamente ligada à queda na taxa de juros, que permite o acesso a uma casa dos sonhos”, afirma França. Segundo ele, a oportunidade trazida pela taxa de juros, somada à pandemia, incentivaram o comportamento. “As pessoas passaram a ficar mais em casa e pensam o que poderiam ter de melhor. Assim, passaram a buscar um imóvel mais adequado”, afirmou.
O aquecimento do setor é importante para o mercado de trabalho pois há uma grande cadeia produtiva envolvida na construção civil. Desde o canteiro de obras até a fabricação de insumos. Hoje, segundo a Abrainc, há 4 milhões de pessoas empregadas diretamente no setor, com potencial de atingir 7,5 milhões nos próximos anos.
Pandemia
Considerada serviço essencial, a construção civil não parou durante a pandemia. Seguindo protocolos de saúde como distanciamento, uso de máscara e álcool em gel, o setor conseguiu evitar grandes ondas de contágio na pandemia. Segundo um levantamento feito pela Abrainc em 888 canteiros de obra no país, envolvendo 69 mil trabalhadores, foram registradas 11 mortes por Covid-19.
França avalia que sucesso no protocolo de prevenção da doença está diretamente ligado à natureza da atividade, que antes mesmo da pandemia já lidava com a segurança do trabalho. “Acrescentamos um cuidado à saúde junto a todos os outros protocolos e eles são eficientes”, diz.