(Folha de S. Paulo – Morar – 27/04/2019)
Tatiana Vaz
Cerca de 90% dos empréstimos para a compra de imóveis vêm dos bancos. Esse número, porém, deve cair a longo prazo com a entrada das startups financeiras, as fintechs, nesse mercado.
O maior atrativo dessas empresas é que elas oferecem maior facilidade e rapidez nas transações, diz André Massaro, economista especializado em finanças pessoais.
"Elas concedem o mesmo valor de crédito que os bancos, a prazos semelhantes e muitas vezes com menos burocracia", afirma.
Por conta da tecnologia, a análise de perfil do devedor é feita com mais rapidez. Além disso, permitem que o imóvel que será comprado pelo cliente seja usado como garantia da dívida.
As fintechs também querem abocanhar no mercado imobiliário uma modalidade que os grandes bancos deixam de lado: o refinanciamento, quando a pessoa usa um imóvel que já tem como garantia para obter crédito.
Trata-se de um mercado grande. O crédito com garantia em imóveis movimenta cerca de R$ 15 bilhões, estando 70% concentrado nos grandes bancos. Entre as fintechs que já operam nesta modalidade está a Bcredi.
Profissionais autônomos e empresários faturam de R$ 30 mil a R$ 2 milhões por mês são o foco da startup financeira.
"Notamos que esse público era mal atendido porque os bancos não conseguiam fazer a análise de crédito conjunta do perfil empresarial e pessoal daquele possível cliente", diz Maria Teresa Fornea, diretora-executiva da fintech.
"Somos diligentes, mas mais flexíveis com esses perfis, porque entendemos que eles têm uma forma mais complexa de comprovar renda."
O trâmite é online e mais desburocratizado, segundo Fornea. Ela afirma que os procedimentos que um banco tradicional demoram dois meses para aprovar são feitos na Bcredi três dias.
Em troca, contudo, as taxas são maiores. Hoje, a fintech cobra 10,5% de juros anuais para financiamento, contra pouco menos de 9% nos principais bancos.
Outra alternativa aos bancos que começa a ser popularizada é o crédito imobiliário concedido por cooperativas.
Nesse modelo, o interessado entra como cooperado: paga um valor mínimo em troca de uma cota da organização, que investe o montante aportado por todos os participantes em aplicações financeiras.
Quando há lucro, ele é distribuído de acordo com o percentual de cotas que cada participante possui.
Cada cooperativa segue uma regra própria para a entrada de novos sócios, que vão desde localização, a profissões específicas e aportes mínimos.
Em geral, as taxas administrativas das aplicações são baixas e o custo do empréstimo menor em comparação com os bancos tradicionais, já que é a própria cooperativa que analisa e concede o crédito.
A Uniprime Norte do Paraná teve alta de 35% na procura por empréstimos no primeiro trimestre, comparado ao mesmo período do ano anterior.
"Nosso diferencial é financiar até 90% do valor do imóvel em até 300 meses para os associados, em qualquer localização", afirma a gerente Juliana Olivieri Refundini.
Há, no entanto, alguns cuidados necessários antes de recorrer a essas instituições, alerta Marco Harbich, planejador financeiro da SuperRicco.
"É preciso checar se a fintech ou cooperativa tem autorização do Banco Central para a concessão de empréstimos, o que pode ser feito no site do BC", afirma.
Também é recomendado analisar o custo total da transação, não apenas a taxa de juros, além de testar a central de atendimento para o caso de eventuais problemas no futuro. "Até porque na hora de dar empréstimo, tudo parece lindo", diz Harbich.