Após três anos de forte retração no consumo brasileiro de cimento, a indústria local já mostra maior otimismo para um início de recuperação em 2018. O sentimento ganhou força a partir de agosto, quando a queda nas vendas internas começou a desacelerar mês a mês. Ontem, o SNIC, entidade dos fabricantes no país, informou que em outubro os despachos caíram 0,5% na comparação com um ano atrás.
“Os resultados das vendas de outubro continuam mantendo o ritmo de redução da queda apresentado nos meses de agosto e setembro”, afirmou Paulo Camillo Penna, presidente do SNIC.
Com a melhora de indicadores econômicos importantes no país, Penna diz que já se pode falar em expansão do consumo de 1,5% no próximo ano, frente ao desempenho de 2017, que, ao que tudo indica, vai fechar com baixa de 6% em relação a 2016. “Até meio do ano, falávamos em apenas zero a 0,8%, mas vimos mudança de cenário do meio do ano para cá”.
Penna cita entre os indicadores a melhora na renda das pessoas, algumas medidas do governo para o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, flexibilidade no Cartão Reforma (linha de crédito que subsidia material de construção para reformas), liberação do FGTS inativo, estancagem do desemprego, aliados a um maior otimismo no país.
Segundo o executivo, ao contrário do que se previa, foi a área de edificações que puxou a maior demanda de cimento nos últimos meses. Antes, a expectativa era de que uma onda de obras de infraestrutura que iria liderar a retomada. Mas não foi o que ocorreu. Ao mesmo tempo, disse, caíram a inflação e os juros, o que estimulou pessoas a investir, por exemplo, em imóveis. No setor imobiliário, houve redução dos estoques de imóveis prontos.
Apesar de ser um ano de eleições para presidente, governadores e Congresso, 2018 sinaliza ser um ano de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), afirma Penna. E isso tende a puxar a demanda de cimento e outros materiais de construção.
O executivo admite que a reversão dos três anos de baixa no consumo ainda será bem lenta, pois, desde o fim de 2014, quando foram vendidas 71 milhões de toneladas, a retração acumulada das vendas alcançou 25%. O setor projeta produzir e vender 54 milhões de toneladas neste ano.
No acumulado dos dez meses, as vendas de cimento pelos fabricantes ao mercado nacional totalizaram 45,2 milhões de toneladas. O volume representa queda de 6,7% frente ao mesmo período de 2016. Em outubro, o volume comercializado totalizou 4,6 milhões de toneladas.
“Se compararmos o fechamento de 2016, quando tivemos queda de 11,7% nas vendas, com o acumulado até outubro, atingimos um ganho de 5 pontos percentuais”, afirmou. Com isso, acrescentou, os resultados finais para este ano devem registrar retração em torno de 6%. “Esse percentual está em linha com as nossas projeções, quase metade da queda ocorrida em 2016″, disse o executivo.
“Vamos fechar o ano com ociosidade de 46% no parque industrial”, informou. No Estado de São Paulo, das 13 fábricas existentes, apenas sete estão operando. Destas, duas com metade da capacidade, informou. “Ainda vivemos um cenário dramático”, disse. Para piorar a situação das empresas, lembrou que o setor enfrenta elevada baixa nos preços do cimento no mercado interno e expressiva alta de custos nas principais matérias-primas e insumos: 40% em energia elétrica, 38% no coque, 20% na sacaria e 19% no frete.
Por: Ivo Ribeiro (Valor Econômico – Finanças – 10/11/2017)