Há dois trimestres com prejuízo líquido, a Cyrela espera que seja possível voltar à lucratividade no próximo ano, afirmou na sexta-feira o diretor financeiro, Miguel Mickelberg. O executivo pondera que o momento em que a empresa terá lucro, novamente, depende da redução dos cancelamentos de vendas, da aceitação dos projetos da incorporadora pelo mercado e da recuperação da economia. “Nosso resultado ainda está bastante impactado por distratos”, afirmou.
De julho a setembro, a companhia apresentou perda de R$ 6,8 milhões, segundo prejuízo líquido trimestral de sua história. Em nove meses, a perda acumulada é de R$ 144 milhões.
Em teleconferência com analistas e investidores, o copresidente da Cyrela, Raphael Horn, afirmou que a recuperação do mercado é lenta, mas tem ocorrido, com crescimento das vendas. “O setorainda sofre muito com a piada que são os distratos”, ponderou.
Horn comparou que fazer incorporação, no Brasil, com o atual cenário de distratos, é como ser um jogador que vai a campo na Copa do Mundo com uma das pernas amarradas. A expectativa é “voltar a jogar com as duas pernas em 2019″, não por mudança nas regras dos distratos, mas porque as entregas estarão concluídas no próximo ano, segundo ele.
O copresidente afirmou que, enquanto não houver regulamentação das rescisões, “o fantasma dos distratos” voltará sempre que houver crise econômica no país ou crise imobiliária. “O volume de distratos impossibilita qualquer margem bruta decente”, disse Horn. A margem bruta passou de 30,7% no terceiro trimestre de 2016 para 24,6% de julho a setembro.
Os lançamentos da companhia podem ser “mais robustos” em 2018, segundo o copresidente, porque parte dos projetos que estavam previstos para este ano foram postergados por atrasos na obtenção de licenças. Neste quarto trimestre, a Cyrela vai concentrar a apresentação de novos projetos em São Paulo e na região Sul. Também serão apresentados empreendimentos no Rio de Janeiro, mas em menor proporção.
De acordo com Horn, a Cyrela teve distratos de R$ 7 bilhões nos últimos três anos. O copresidente ressaltou que “tem o sonho de viver em um país com uma legislação [de distratos] normal”. “Espero que um dia esse sonho aconteça”, disse. Atualmente, 65% dos distratos da Cyrela resultam de questões relacionadas a crédito.
A Cyrela reduziu sua participação na Tecnisa, de 13,6% para patamar entre 7,5% e 10%, segundo o diretor de relações com investidores e finanças estruturadas, Paulo Gonçalves. Questionado sobre a razão para a venda de parte da posição, Gonçalves limitou-se a dizer que a empresa tem investimento financeiro na Tecnisa. O conselho da Cyrela ainda não decidiu qual será sua posição na Tecnisa.
Por: Chiara Quintão (Valor Econômico – Empresas – 13/11/2017)