(O Globo – Economia – 11/10/2019)
O número de imóveis ofertados para venda no Rio de Janeiro bateu novo recorde este ano e derrubou os preços no mercado imobiliário na cidade. De acordo com uma pesquisa do Secovi-Rio (Sindicato da Habitação) divulgada na quarta-feira, havia 78.411 casas e apartamentos à espera de compradores na cidade em agosto, um aumento de 115%, em três anos, quando existiam 36.326 imóveis disponíveis no município.
A oferta elevada provocou queda de 10,4% no preço do metro do quadrado na capital, que passou de R$ 9.913 em agosto de 2016 para R$ 8.881 no mesmo período deste ano.
Segundo Leonardo Conde Schneider, vice-presidente da Secovi-Rio, entre os fatores que podem contribuir para a recuperação do setor estão a queda na taxa de juros cobrada no financiamento imobiliário e a competição entre os principais agentes financeiros que ofertam crédito aos consumidores.
Na terça-feira, a Caixa Econômica anunciou redução de um ponto percentual nos juros, com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).
- A oferta está maior, e as pessoas estão tentando vender seus imóveis e rentabilizar os investimentos que fizeram em anos anteriores - observa Schneider. - O que notamos é que, depois de vários meses de queda, houve uma estabilidade nos preços praticados no mercado. Isso sinaliza que a demanda está voltando e reaquecendo o mercado, ainda que numa velocidade reduzida. Começamos a observar um movimento positivo, de procura por imóveis e fechamento de contratos.
Segundo a pesquisa do Secovi, houve um crescimento de 13% no número de imóveis negociados no Rio, entre janeiro e agosto de 2019, na comparação com mesmo período do ano passado. O total de imóveis negociados chegou a 30.698 este ano, contra 27.272 nos oito primeiros meses de 2018.
O mercado imobiliário do Rio, porém, apresenta características distintas dependendo do bairro e da localização do imóvel. Enquanto na Zona Oeste — especialmente no Recreio dos Bandeirantes, em Jacarepaguá e na Barra da Tijuca — a oferta ainda é significativa, na Zona Sul os preços já começam a ser corrigidos.
— A demanda cresceu, embora a oferta continue grande. Por exemplo, na Zona Oeste, há muitos empreendimentos como o Ilha Pura. Já na Zona Sul, os compradores não têm tanto poder de barganha, e os preços resistiram mais à crise e estão se recuperando. Botafogo está despontando no cenário de lançamentos. Na Tijuca, há vários bairros em um. O preço ainda está bem abaixo do que se praticava antes da crise, mas tem uma demanda contínua — explica Henrique Blecher, diretor executivo da incorporadora Bait.
Lançamentos - Outro indicador divulgado pelo setor foi a quantidade de lançamentos de novos imóveis na cidade. O levantamento mostra que o total foi o maior dos últimos cinco anos, chegando a 10.489 novas unidades.
Para o Secovi, a retomada da confiança dos incorporadores e das construtoras, e o novo Código de Obras e Edificações do Rio — sancionado no início do ano e que, entre outras mudanças, reduziu a área mínima útil de apartamentos para 25 metros quadrados em determinadas regiões da cidade — contribuíram para alavancar as novas obras.
Os bairros da Zona Sul têm sido os mais procurados para os lançamentos na cidade, mas ainda há novas unidades também na região do Centro.
José Conde Caldas, presidente da Concal, lembra que o novo Código de Obras e Edificações do Rio possibilitou a redução da área mínima útil de apartamentos, animando os investidores a erguerem novos empreendimentos.
— As mudanças na legislação foram um grande avanço. Em São Paulo, 28 mil unidades de apartamentos pequenos foram lançados com sucesso, atraindo jovens, estudantes e casais idosos — ressalta Caldas.
Locação - Se a crise atingiu em cheio o fechamento de negócios de compra e venda, também não poupou a assinatura de contratos de aluguel na cidade. O valor do metro quadrado para locação chegou a R$ 29,71, menor patamar dos últimos sete anos.
O número despencou 54% em relação ao pico de cobrança na cidade, que em 2014 foi de R$ 45,90. Em agosto, o número de imóveis disponíveis para locação na capital foi de 12.112 unidades.
Além da crise, os aumentos nos valores dos condomínios e do IPTU têm pressionado os proprietários a reduzirem os preços do aluguel para não deixarem os imóveis fechados.
— O preço de locação voltou a patamares de 2012. Com o mercado assim, os proprietários passaram a negociar os valores e flexibilizar exigências, como oferecer imóveis sem garantia e sem fiador. Os custos dos condomínios estão doendo no bolso. O gasto representa 33,4% do custo do imóvel no aluguel (em média) — explica o vice-presidente do Secovi-Rio.
A proporção entre o valor do aluguel e o do condomínio era de 16,1%, em 2012, segundo a pesquisa da entidade.