(Diário do Comércio – Economia – 21/08/2019)
A Caixa Econômica Federal lançou, ontem, uma linha de crédito imobiliário corrigida pelo IPCA, índice oficial de preços, com o argumento de que o novo financiamento vai reduzir os juros para compra da casa própria – embora o indicador seja considerado mais instável que a TR (Taxa Referencial), usada hoje.
Segundo a Caixa, o saldo devedor será atualizado pelo IPCA, a exemplo do que ocorre com a TR, hoje zerada. As mudanças valem para o Sistema Financeiro de Habitação (SFH), para imóveis até R$ 1,5 milhão e que permite o uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), e para o Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), para aqueles acima desse valor e sem a possibilidade de uso do Fundo.
A taxa mínima da nova linha, oferecida a clientes com melhor perfil de risco, será de IPCA + 2,95% ao ano, enquanto a máxima ficará em IPCA + 4,95% ao ano. Hoje, o banco, que detém mais de 70% do crédito habitacional do País, cobra juros de 8,5% a 9,75% ao ano mais TR nas principais linhas de crédito imobiliário – no programa Minha casa, minha vida os juros são menores.
Os contratos poderão ter prazo de até 360 meses e valor máximo financiado de 80%. Para obter o financiamento, o cliente só poderá ter, no máximo, 20% de renda comprometida – hoje, o percentual é de 30%. Ou seja, a nova linha será oferecida a quem tem mais folga no orçamento e, portanto, risco menor de dar calote.
Maior risco – Para especialistas, a oscilação do IPCA pode tornar o financiamento mais arriscado e caro ao cliente, principalmente pelo longo prazo do crédito – o contrato pode ter duração de 35 anos. O IPCA é mais agressivo, respondendo mais rapidamente a alguma turbulência econômica. A TR é menos instável e hoje está zerada. O saldo devedor, portanto, não sofre correção na prática.
A mudança foi aprovada em reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) realizada na última semana.
Com a nova linha de crédito, a Caixa quer emprestar mais, ancorando-se na possibilidade de empacotar esse crédito e vendê-lo a investidores – que vão avaliar se vale correr o risco de inadimplência de clientes, em vez de optar pela segurança de um título público que, hoje, remunera IPCA mais 3% ao ano, em média.
Recentemente, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, estimou que poderá emitir até R$ 100 bilhões em papéis lastreados com financiamentos imobiliários. No primeiro ano, esse número seria de R$ 10 bilhões.
Cálculos conservadores indicam que a Caixa poderia dobrar sua carteira de crédito habitacional, passando dos atuais R$ 449 bilhões, no primeiro trimestre deste ano, para quase R$ 1 trilhão.
Nos Estados Unidos, o mercado de securitização imobiliária causou uma das mais graves crises financeiras mundiais. Em 2008, grandes bancos foram à lona por terem adquirido títulos podres de hipotecas americanas.
Estímulo econômico – Com a mudança, a Caixa se alinha à estratégia do governo de reacender a economia -indicador do Banco Central sugere que o Brasil está em recessão técnica, apontando dois trimestres seguidos de queda do Produto Interno Bruto (PIB).
Em junho, a Caixa anunciou redução de 1,25 ponto percentual nas taxas de juros para financiamentos imobiliários concedidos com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que hoje responde por quase 40% do total dos financiamentos.
Também abriu rodadas de renegociação de contratos em atraso concedendo, em alguns casos, até 90% de descontos de juros. Essa campanha atingiu 2,3 milhões de pessoas. (Folhapress).