O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu a taxa básica de juros, a Selic, de 7,5% para 7% ao ano, nova mínima histórica desde a adoção do regime de metas para a inflação, em 1999, e acenou com a possibilidade de novo corte em 2018. O menor percentual até então era de 7,25% ao ano, em outubro de 2012, mas durou apenas sete meses.
No comunicado apresentado logo após a decisão, o colegiado presidido por Ilan Goldfajn indica uma nova baixa da Selic na próxima reunião, marcada para os dias 6 e 7 de fevereiro de 2018, mas menor do que o corte de meio ponto decidido agora. No entanto, o BC ressalvou que "essa visão para a próxima reunião é mais suscetível a mudanças na evolução do cenário e seus riscos que nas reuniões anteriores".
O colegiado também deu uma sucinta sinalização sobre a condução da política monetária após a reunião de fevereiro, afirmando que "para frente, o Comitê entende que o atual estágio do ciclo recomenda cautela na condução da política monetária".
Na reunião de outubro, o Copom havia evitado dar sinalização sobre o que faria depois do encontro imediatamente seguinte. Na ocasião, o BC comunicou que preferia "manter liberdade de ação e adiar qualquer sinalização sobre as decisões futuras de política monetária de forma a incorporar novas informações sobre a evolução do cenário básico e do balanço de riscos".
Dessa vez, o BC reorientou a sua comunicação para avisar que, depois da próxima reunião, o ciclo recomenda "cautela", ao mesmo tempo em que não diz textualmente que o ciclo de distensão monetária vai acabar. Mais uma vez, o colegiado diz que suas decisões futuras vão depender da "evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação".
O Copom voltou a afirmar que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural (Selic que coloca o crescimento da economia no seu potencial e não acelera nem desacelera a inflação). Também enfatizou que o processo de reformas e ajustes contribui para a queda dessa taxa estrutural. O atual ciclo de distensão monetária começou em outubro de 2016, quando a Selic estava em 14,25% ao ano, e ganhou corpo depois que a inflação recuou do patamar de 9% para pouco menos de 3% ao ano.
A maioria dos economistas ouvidos pelo Valor trabalha com um cenário base de que o Copom possa fazer mais um corte de 0,25 ponto na Selic em fevereiro, a depender das condições de mercado e das expectativas para inflação e atividade econômica. Por outro lado, se o governo Temer conseguir aprovar a reforma da Previdência ainda neste ano, o BC pode até fazer uma nova redução de 0,5 ponto na Selic em fevereiro.
"A principal variável a ser considerada para a próxima reunião é a reforma da Previdência, por isso eu não descartaria uma redução de 0,5 ponto se a proposta for aprovada", afirma Zeina Latiff, economista-chefe da XP Investimento.
Para Thaís Zara, economista-chefe da Rosemberg Associados, o comunicado trouxe poucas mudanças em relação ao anterior, mas deixou claro que os próximos passos do BC estão mais suscetíveis a mudanças no cenário. "Além da reforma da Previdência, a aprovação do plano tributário nos EUA é um fator de incerteza", diz. A economista aprovou o tom cauteloso do BC no comunicado. "Desde o ano passado tivemos uma queda de 7,25 pontos na Selic, e nem todo o efeito da flexibilização monetária foi captado pela economia", afirma.
Para Sérgio Goldenstein, sócio gestor da Flag Asset Management, o cenário base do Copom é fazer um último corte de juros, de 0,25 ponto percentual, em fevereiro, o que levaria a taxa para 6,75%. Mas, caso aconteça a reforma da Previdência e haja uma reação positiva do câmbio, existe a chance de o Banco Central voltar a cortar a taxa básica da economia em março, para 6,5%.
Em termos reais, o juro orbita a casa dos 2,9% ao ano, considerando o swap de juros de 360 dias, de 7%, descontado o IPCA projetado em 12 meses, de 3,96%. O patamar de juro real é o menor desde meados de 2013. No Relatório de Inflação (RI) do terceiro trimestre, o BC apresentou uma pesquisa feita em abril para colher a avaliação do mercado sobre essa taxa estrutural, também conhecida como "taxa neutra". A mediana mostrou taxa de 5% no curto prazo, 4,5% em dois anos e 4% em cinco anos.
O BC já explicou que em algum momento a taxa precisará ser normalizada, e isso pode ocorrer por eventos que reduzam esse juro neutro, por um aumento da Selic ou pela combinação dos dois fatores.
No comunicado, o Copom atualizou suas projeções de inflação. O BC estima que a inflação vai fechar 2017 em 2,9%, menor que os 3,3% projetados da reunião de outubro. O percentual está abaixo do limite inferior do intervalo de tolerância da meta de 4,5%, estabelecido em 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. O BC vai divulgar estimativas mais detalhadas do risco de a inflação ficar abaixo do piso, bem como da trajetória do índice de preços até 2020, no Relatório de Inflação, a ser divulgado no dia 21.