(O Estado de S. Paulo – Economia e Negócios – 08/01/2019)
Fabrício De Castro, Eduardo Rodrigues, Idiana Tomazelli e Aline Bronzati
O governo de Jair Bolsonaro anunciou nesta segunda-feira, 7, que vai reduzir o tamanho dos bancos públicos no País, com venda de subsidiárias e a devolução de aportes feitos pelo Tesouro nessas instituições. Também indicou que irá diminuir o número de agências e encarecer o custo do crédito para a classe média (no caso de financiamentos à casa própria) e para o produtor rural para que os bancos deem mais retorno ao controlador, a União.
Ao dar posse a Joaquim Levy (BNDES), Rubem Novaes (Banco do Brasil) e Pedro Guimarães (Caixa Econômica Federal), o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o mercado de crédito no País foi “estatizado” e sofreu “intervenções danosas” de governos anteriores. “A máquina de crédito do Estado sofreu desvirtuamento. Perderam-se os bancos públicos através de uma aliança perversa de piratas privados, democratas corruptos e algumas criaturas do pântano político”, discursou o ministro. Ele afirmou que os novos presidentes estão assumindo os cargos com a responsabilidade de acabar com a “falcatrua”.
Presente na cerimônia de posse, no Palácio do Planalto, Bolsonaro afirmou que não admitirá nenhuma “cláusula de confidencialidade pretérita” nos bancos para justificar a falta de transparência nas operações. Mais cedo, no Twitter, o presidente afirmou que a “caixa-preta” do BNDES está sendo levantada e será divulgada, assim como de outros órgãos públicos federais.
Guedes também criticou o que chamou de financiamentos “estranhos” do BNDES, quando o banco emprestou a juros baixos para grandes companhias, que ficaram conhecidas como “campeãs nacionais”, ou para projetos de pouco retorno. “Nós, economistas liberais, não gostamos disso”, afirmou. O ministro da Economia também disse que à medida que a “caixa-preta” da Caixa for examinada, vai ficar “óbvio” que o banco foi “vítima de saques, fraudes e assaltos nos recursos públicos”. Guedes afirmou que Bolsonaro não vai tolerar compra de influência política junto aos bancos públicos e, consequentemente, o uso de recursos na direção equivocada.
Em sintonia com o chefe, os presidentes dos bancos prometeram priorizar pequenos tomadores de crédito, venda de participação em subsidiárias e o pagamento da dívida com a União.
Em 2012, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff os bancos oficiais foram obrigados a reduzir as taxas e os juros, movimento que não foi compartilhado pelos concorrentes privados. Como a crise econômica se agravou, houve aumento de calotes, redução do retorno das instituições e o comprometimento de capital.
Guimarães, da Caixa, disse que a classe média terá de pagar juros maiores do que os cobrados nos financiamentos do programa de habitação popular Minha Casa Minha Vida. “Quem é classe média tem de pagar mais. Ou vai buscar no Santander, Bradesco, Itaú. Na Caixa, vai pagar um juro maior que o do Minha Casa, certamente, porque vai ser um juro de mercado.”
Novaes, do BB, disse que há um entendimento tanto do Banco Central como do Ministério da Economia de que seria necessário reduzir subsídios nos juros do crédito rural e ampliar o seguro agrícola.