Depois de reservarem quase R$ 23 bilhões para lidar com ações cíveis, como a das alegadas perdas com os planos econômicos das décadas de 1980 e 1990, os bancos podem até mesmo registrar um ganho no balanço após o acordo fechado nesta semana com os poupadores. Procurados, os bancos não comentaram o assunto.
O valor inicial das ações é de pelo menos R$ 10 bilhões, segundo fontes. A diferença entre o valor já reservado e o efetivamente pago, caso seja positiva, pode ser revertida a favor das instituições nos próximos balanços, segundo analistas.
O acordo também coloca um fim na incerteza relacionada ao caso. Os bancos sempre alegaram que cumpriram a legislação da época. Em fases anteriores do processo chegou-se a falar que a conta dos planos econômicos poderia chegar a R$ 341 bilhões. “Se houver alguma surpresa, será no sentido de uma reversão de provisões”, afirmou um analista que pediu para não ser identificado.
Apenas os bancos públicos divulgam o valor provisionado especificamente para a questão dos planos econômicos. No fim do ano passado, o Banco do Brasil contava com R$ 4,5 bilhões reservados para o pagamento dos poupadores que entraram com ações para questionar o índice de correção das cadernetas de poupança e depósitos judiciais.
Com o acordo, a despesa do banco para ressarcir os poupadores deve variar entre R$ 2,2 bilhões e R$ 3,3 bilhões. Ou seja, o BB potencialmente teria até R$ 2,3 bilhões em provisões para reverter. As ações do banco público registraram a maior alta do setor ontem na bolsa, de 1,49%. O Ibovespa, principal índice da B3, teve valorização mais modesta, de 0,11%.
O BB não comentou o assunto, mas a sinalização anterior do banco era que um eventual acordo com os poupadores não mudaria as provisões. “Não esperem nenhum efeito positivo do acordo no resultado do banco”, disse a analistas o gerente geral de relações com investidores do BB, Bernardo Rothe, em teleconferência para comentar o balanço do terceiro trimestre.
Entre os grandes bancos, a Caixa Econômica Federal é apontada como a instituição mais exposta à questão da correção dos planos econômicos. O banco público contava com 36,4% do saldo das cadernetas de poupança em 1990, pela estimativa dos analistas do J.P. Morgan. O Bradesco seria o segundo com maior exposição, de 23,2%, seguido por Itaú Unibanco (12,8%) e Santander (4,3%).
Em setembro deste ano, a Caixa tinha pouco mais de R$ 1,5 bilhão em provisões relacionadas aos planos. Questionado, o banco confirmou o valor, mas não comentou se o montante é suficiente para ressarcir os poupadores dentro do acordo fechado nesta semana. A expectativa de uma fonte que acompanha o assunto, porém, é que a Caixa não precise fazer novas provisões.
Para um analista, o aspecto mais positivo do acordo é tirar uma “guilhotina” da cabeça dos bancos, diante da incerteza sobre a sentença caso a ação corresse até o fim na Justiça. O acordo ainda precisa ser homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Essa também é a leitura de um executivo de uma grande instituição financeira. Para esse interlocutor, poupadores e bancos, com a intermediação da AGU, construíram um consenso em torno de uma questão complexa e para a qual não havia um vencedor claro.