Apesar de o mercado carioca ter fechado 2017 com mais de um terço dos escritórios de alto padrão vazios, o valor médio do aluguel pedido pelos proprietários fechou o trimestre concluído em dezembro só 2% abaixo do ano anterior. A resistência em baixar preços pode ser explicada em parte pela variação negativa em 2017 do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), usado na correção de aluguéis.
Por detrás da relativa estabilidade nos preços pedidos estão descontos que chegam a 20%, quando se comparam estes valores com os efetivamente fechados em contrato.
Levantamento da consultoria internacional Newmark Grubb indica que o valor do aluguel mensal pedido na cidade do Rio de Janeiro foi de R$ 97,50 por metro quadrado, em média, para o período de outubro a dezembro de 2017. No quarto trimestre de 2016 esse indicador estava em R$ 99,50. Paralelamente, a taxa de vacância (percentual de unidades não locadas) subiu de 27,4% para 36% no período. "A diferença entre o preço pedido e o fechado significa um desconto de 15% a 20%", diz Eduardo Cardinali, diretor para a área de escritórios da Newmark Grubb. "Historicamente, essa diferença era de 5%, 10% no máximo", afirmou.
No ano passado, o IGP-M - utilizado para corrigir a maioria dos contratos de aluguel - acumulou deflação de 0,52%. Na prática isso significa uma estabilidade no valor dos aluguéis e não uma queda nos preços, explica Tiago Alves, presidente no país da Regus e da Spaces, empresas de aluguel de espaços de trabalhos flexíveis e compartilhados. Mesmo no caso de contratos novos, os valores de mercado são referência. "A informação [sobre contratos de aluguel] é pública. Está disponível na Junta Comercial, nos registros de imóveis", acrescenta Alves.
No segmento de condomínios industriais e logísticos a taxa de vacância é menor do que no de escritórios, mas seu avanço foi mais expressivo no ano passado. Entre o quarto trimestre de 2016 e o mesmo período de 2017, o percentual de imóveis destinados a atividades industriais e logísticas saltou de 20,7% para 30%. O aumento de quase 50% na vacância em termos percentuais derrubou os preços pedidos para locação em 14,2%, de acordo com os dados compilados pela Newmark Grubb. O valor do metro quadrado passou de R$ 23,89, no último trimestre de 2016, para R$ 20,50 (outubro a dezembro de 2017).
"No ano passado, houve muita devolução de imóveis e entrega de novos empreendimentos", afirma Patrick Samuel, diretor da Newmark no Brasil para a área industrial e de logística. Além da retração da indústria petrolífera, o Rio de Janeiro sofreu também os efeitos da taxa de desemprego ainda em alta e da recuperação tímida da produção industrial e do consumo. A crise fiscal enfrentada pelo governo fluminense em 2017, com sucessivos atrasos no pagamento do funcionalismo ativo e inativo, foi um complicador adicional em termos de poder de consumo.
Negócios que requerem áreas para armazenagem de mercadorias, como o varejo tradicional e o comércio eletrônico, foram afetados pela recessão, lembra Samuel. A velocidade de absorção de novos empreendimentos industriais também ficou aquém do esperado. "Não foi absorvido na proporção que se esperava nos últimos dois ou três anos", diz o executivo.
Uma pesquisa elaborada pela empresa Sistema de Informação Imobiliária Latino-Americana (SiiLa) indica que somente no terceiro trimestre houve retração de 4% na área ocupada por empresas de óleo e gás na cidade do Rio de Janeiro, na comparação com os três meses imediatamente anteriores.