A Trisul decidiu que irá manter sua atuação no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida mesmo depois que seus terrenos antigos destinados ao segmento acabarem. A intenção, segundo o presidente da incorporadora, Jorge Cury, é que o segmento econômico responda por um terço dos lançamentos. A principal área de atuação da Trisul, com dois terços do total, continuará a ser o desenvolvimento de empreendimentos residenciais para as rendas média e média-alta nas zonas Oeste e Sul da cidade de São Paulo.
Independentemente do segmento, todos os terrenos buscados pela Trisul se concentram nos chamados eixos estruturantes da capital paulista, ou seja, próximos de metrôs e corredores de transporte público, onde o potencial construtivo aumentou com o novo Plano Diretor de São Paulo.
A Trisul tem áreas em Santos, Jandira, Araçatuba e Ribeirão Preto, que foram adquiridas antes de a incorporadora definir que deixaria de comprar terrenos para o segmento econômico, desenvolveria projetos para essa faixa apenas com o estoque existente e atuaria apenas na cidade de São Paulo. Por esse planejamento, a Trisul não teria mais lançamentos enquadrados no Minha Casa, Minha Vida a partir de 2019, quando essas áreas já estariam consumidas.
Quando o novo Código de Obras e Edificações (COE) da capital paulista foi sancionado no ano passado, porém, a Trisul passou a avaliar a possibilidade de lançar projetos de habitação de mercado popular (HMP) nas proximidades de estações de metrôs mais afastadas das regiões centrais. Desde então, comprou dois terrenos - um nas proximidades da estação Vila Prudente e outro perto do Bresser - e tem uma outra área com contrato em via de ser fechado.
Cury conta que, embora as margens obtidas com esses projetos sejam de 10% a 15% inferiores às de empreendimentos destinados às rendas média e média-alta, o custo dos terrenos é mais baixo. O executivo acrescenta que o fluxo de caixa é melhor, pois o repasse dos recebíveis dos clientes para a Caixa Econômica Federal ocorre na planta.
Segundo o presidente da Trisul, a incorporadora possui experiência no segmento de baixa renda, mas não tem condições de produzir em escala para essa faixa.
A companhia mantém a estimativa de que no seu ciclo imobiliário projetado para até 2020 terá lançamentos anuais na faixa de R$ 600 milhões a R$ 700 milhões. No primeiro semestre, a Trisul lançou Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 304 milhões, com queda de 19% ante o mesmo período de 2017. De acordo com Cury, a expectativa é que a meta para este ano seja cumprida. "Os projetos estão aprovados ou têm as licenças bem encaminhadas", diz.
Nenhum projeto da Trisul teve sua liberação de licenças interrompida no período em que vigorou a liminar que suspendeu o direito de que projetos protocolados antes de a nova Lei de Zoneamento da capital paulista ter entrado em vigor em 2016 pudessem seguir as regras antigas. A companhia compra terrenos para aprovação em dez meses, com lançamento na sequência. O banco de terrenos da incorporadora corresponde ao VGV potencial de R$ 1,1 bilhão.
No primeiro semestre, as vendas contratadas líquidas aumentaram 23%, para R$ 303 milhões. "Estamos vendendo bem, mas teríamos vendido mais se o ambiente econômico e político estivesse mais favorável", afirma Cury.
Segundo o presidente da empresa, a paralisação dos trabalhadores, ocorrida no início de maio, em decorrência do dissídio do setor de construção, e a interrupção da produção com o não recebimento de materiais devido à greve dos caminhoneiros significaram diminuição de 20% a 25% do andamento das obras, fatia da qual foi possível recuperar uma parcela em junho. Como a receita do setor é contabilizada conforme o avanço das obras, o indicador foi impactado pelo ritmo menor do trimestre.
Na avaliação de Cury, o próximo presidente da República precisa fazer as reformas necessárias para o país voltar a crescer, gerar empregos, promover o aumento da renda e estimular o consumo. "Seja de centro, centro-direita ou centro-esquerda, o novo presidente precisa implantar as reformas", afirma o presidente da Trisul".
Cury ressalta que os distratos precisam ser regulamentados. "Os deputados entenderam que esta é uma questão quase de sobrevivência do setor. Muito me admira que os senadores não tiveram a mesma visão", diz o presidente da Trisul. No último dia 10, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado rejeitou, por 14 votos a seis, o projeto que regula o distrato.
O presidente da Trisul defende também que haja flexibilização de alguns pontos da nova Lei de Zoneamento, como os valores de outorga onerosa (contrapartida financeira para uma incorporadora erguer o prédio além do potencial construtivo básico, até o limite do coeficiente de aproveitamento máximo) no chamado remanso da cidade de São Paulo, ou seja, no miolo dos bairros. "O setor espera que o projeto de lei que flexibiliza a Lei de Zoneamento seja votado neste ano", diz Cury.