COMO FUNCIONA NOSSO PROCESSO DE CONTRATAÇÃO

1 Crie uma conta no site
2 Escolha um curso
3 Realize seu pagamento on-line

FALE CONOSCO

Seg. a Sex. 9:00 - 18:00
Tel: (11) 3286-4854

Retornos de CDBs, LCIs e LCAs são inflados com queda da Selic. Vale a pena?

29/09/2020 / Categorias Mercado imobiliário , Economia

(Valor Econômico – Economia – 29/09/2020)

 

Weruska Goeking

 

Enquanto a remuneração dos investimentos de renda fixa atrelados ao CDI (Certificado Depósito Interbancário) anda cada vez mais murcha, os bancos "suam" para oferecer taxas de retorno atrativas para investidores que começam a nadar nas águas da renda variável.

O que se nota no mercado é a tendência de as taxas médias oferecidas em CDBs (Certificados de Depósito Bancário), LCIs (Letra de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letra de Crédito Agronegócio) aumentarem conforme a Selic diminui.

Em 2014, quando a Selic variou entre 10,50% e 11,75% ao longo do ano, a remuneração média dos CDBs de bancos médios foi de 118,70% do CDI ao ano, conforme levantamento da Yubb, plataforma de busca de investimentos.

No ano passado, quando a taxa de juros oscilou de 6,50% a 4,50%, a rentabilidade média dos CDBs subiu para 124,50% do CDI ao ano. Neste ano, com a Selic média em 2,23%, a remuneração dos CDBs subiu para 125,30% do CDI.

Com a vantagem de serem isentas do pagamento de imposto de renda, as LCIs e LCAs geralmente mostram retornos nominais comparativamente menores do que os oferecidos pelos CDBs - antes do desconto do tributo.

Justamente por isso, muitas vezes as LCIs e LCAs ofereciam retornos abaixo de 100% do CDI, mas essa média vem mudando, como demonstrado no gráfico abaixo:

No entanto, assim como aconteceu nos CDBs, o movimento de ascensão das taxas dessas aplicações também ganhou fôlego com a redução da taxa básica de juros nos períodos observados. Desde 2018, a média paga pelas LCIs e LCAs superam os 100% do CDI.

Quando a Selic média foi de 11,03%, em 2014, as LCIs e LCAs pagavam 98,2% do CDI e esse retorno foi elevado para 101,6% em período de taxa de juros média de 5,88%. Neste ano, com Selic média de 2,23%, essas aplicações estão pagando 103,15%, em média.

O levantamento das rentabilidades de CDBs, LCIs e LCAs de bancos médios foi realizado pela Yubb entre 2014 e 22 de setembro de 2020 em aplicações oferecidas por corretoras independentes e nas plataformas dos próprios emissores.

Emprestando dinheiro para os bancos

As aplicações em CDBs, LCIs e LCAs são, em resumo, empréstimos que o investidor faz aos bancos. E engana-se quem pensa que os bancos já têm muito dinheiro e não precisam pegar empréstimos.

Para os CDBs, geralmente, bancos maiores oferecem remuneração de até 100% do CDI, por terem menor risco, enquanto bancos pequenos e médios podem pagar até mais de 140% do CDI.

Em 23 de setembro, por exemplo, o CDB com aplicação mínima de R$ 1 mil e maior retorno rastreado por levantamento da Yubb era da Avista Financeira, com rentabilidade de 145% do CDI em 12 meses.

Alguns CDBs possuem liquidez diária, ou seja, você pode pegar seu dinheiro de volta a qualquer momento, sem prazo mínimo, mas a rentabilidade será menor e a “mordida” de impostos também. Contudo, os CDBs que pagam mais costumam ter vencimentos apenas depois de pelo menos um ano.

A alíquota do imposto de renda começa em 22,5% para resgates em até 180 dias e reduzem até 15% em saques após 720 dias do investimento, da mesma forma que funciona para os fundos de investimentos de renda fixa.

No caso das LCIs e LCAs, as instituições financeiras usam o dinheiro do investidor para financiar atividades do setor imobiliário e do agronegócio.

Diferentemente dos CDBs, nas LCIs e LCAs não há cobrança de imposto de renda nem de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre os ganhos. Estudo da Yubb mostra que, em 23 de setembro, a LCI com maior retorno disponível, para aplicação mínima de R$ 500, era emitida pelo Banco Máxima com prazo de resgate em 24 meses.

O investidor só pode resgatar o dinheiro aplicado em LCIs e LCAs em uma data pré-determinada, no vencimento do título ou após um prazo de carência.

Riscos

Quem está mais habituado com o mundo dos investimentos já conhece o mantra: "quanto maior o potencial de ganho, maior o risco". Embora todo o mercado de CDBs, LCIs e LCAs esteja na direção de pagar cada vez mais, taxas muito discrepantes entre um banco e outro - com aplicação mínima e prazo semelhantes - podem ser um alerta os investidores.

"O investidor conservador deve ter bastante cuidado. Quem costuma pagar taxas mais altas são os bancos menores e mais novos. Essas taxas mais altas estão atreladas a prazos maiores, sem liquidez diária", Samuel Torres, analista-chefe da Capital Research.

Além do risco do emissor (banco ou instituição financeira), o baixo nível da taxa de juros atual e a aceleração da inflação pode, eventualmente, levar a uma perda de poder de compra.

"Existe a possibilidade de a rentabilidade perder da inflação. O grande risco é a inflação continuar acelerando, ou não retroceder, e ter um descolamento entre a inflação e o Banco Central demorar para subir juros", explica Guilherme Artmann, chefe de renda fixa da Easynvest.

O que isso significa? Que se os juros prometidos forem de 2% e a inflação no período alcançar 3,5%, você teve ganho nominal, mas perde poder de compra.

Torres também avalia que o risco de o rendimento de CBDs, LCIs e LCAs ficar abaixo da inflação, no cenário atual, é "bastante relevante".

Como escolher?

Conhecendo os riscos, é hora de entender como escolher a sua aplicação, e seu emissor, que pode ter uma avaliação de risco já checada por especialistas, facilitando parte do trabalho do investidor.

É comum que agências de classificação de risco, como Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s, atribuam uma nota para os CDBs, LCIs e LCAs. Essa nota busca apontar as chances da instituição que emite o título dar o calote no investidor.

"O emissor tem um rating, não chega a ser um selo de qualidade, mas mostra mais ou menos se o banco é bom ou não", conta Guilherme Artmann. É importante lembrar que esse "selo" é uma foto daquele momento e essa nota pode mudar ao longo do período de aplicação. Se a situação do banco mudar, a avaliação da agência sobre ele também deve seguir o mesmo movimento.

Também é recomendado avaliar o índice de Basileia dos bancos, uma espécie de medidor da saúde financeira dos bancos e financeiras. Esse indicador mostra quanto os bancos estão se expondo aos riscos do mercado. "O índice de Basileia dá uma boa noção do quanto é risco", diz Artmann.

A recomendação internacional é um mínimo de 8% para Basileia. O Brasil já exigiu até mais (11% no mínimo) por um tempo. Contudo, como as regras ficaram mais rígidas, o mínimo exigido foi, aos poucos, diminuindo e, a desde 2019, passou a ser de 8%. Ou seja, para a cada R$ 100 emprestados pela instituição, ela precisa ter R$ 8 guardados.

Para Samuel Torres, da Capital Research, quando o assunto é banco médio, esse índice mínimo exigido pelo Banco Central é baixo. Ele prefere instituições com índice de Basileia entre 15% e 20%.

Marcel Campos, analista do setor financeiro da XP Investimentos, orienta que o investidor observe, especialmente em momento de crise como o atual, se a instituição financeira emissora tem uma boa cobertura de seu nível de inadimplência.

Torres aponta ainda para o prazo de vencimento dos ativos e passivos dos bancos "Se tiver um descolamento muito grande pode ser um risco", diz. Seria como você ter que pagar R$ 100 amanhã, mas vai receber R$ 200 semana que vem. Olhando o planejamento da ótica mensal você tem recurso até de sobra para pagar a dívida, mas no dia do vencimento estará sem dinheiro.

Outro detalhe é que os bancos médios não estão todos na mesma cesta, oferecendo os mesmos serviços. Campos destaca que o risco de crédito de cada banco vai depender muito ao tipo de público que ele trabalha.

"Banco que fazem basicamente empréstimo consignado para beneficiários do INSS, por exemplo, quase não tem inadimplência, porque o dinheiro é descontado diretamente do benefício de quem tomou crédito", exemplifica.

A equipe de análise de renda fixa da XP Investimentos classificou como "risco alto" os bancos voltados para empréstimo pessoal/crédito direto ao consumidor/cartões, financiamento de veículos e focados em empresas médias e pequenas. Os "riscos médios" estão em bancos de crédito consignado e para grandes empresas.

"Os mais arriscados são aqueles que têm 100% de sua carteira de crédito voltado para pessoas físicas, sem nenhuma garantia. Banco focado em financiamento imobiliário é menos arriscado porque tem uma garantia, mas tem todo o processo para retomar e vender o imóvel", afirma Torres.

"Cinto de segurança"

Em um acidente de trânsito, o cinto de segurança não é capaz de evitar uma batida, mas pode impedir machucados mais sérios. Esse é o papel que o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) tem em algumas aplicações de renda fixa, como os CDBs, LCIs e LCAs.

O FGC é uma espécie de "seguro contra calotes" dos bancos e garante o pagamento, ou seja, a devolução de até R$ 250 mil por pessoa física caso o banco emissor do CDB, LCI ou LCA vá a falência. Vale lembrar que esse valor não inclui não só o dinheiro que você investiu, mas também a rentabilidade.

Esses R$ 250 mil também estão limitados a conglomerados financeiros. Ou seja, se você tiver dinheiro aplicado em diversos CDBs emitidos por um mesmo banco que venha a falência, o teto para a restituição do seu investimento também é de R$ 250 mil.

Se você tiver R$ 300 mil em um ou mais CDBs emitidos pela mesma instituição financeira, por exemplo, e ela quebrar, o FGC pagará apenas R$ 250 mil e os outros R$ 50 mil serão perdidos.

E qual a chance de rolar uma quebradeira de bancos que o FGC não seja capaz de segurar? Marcel Campos, da XP, explica que mesmo com a crise atual as chances são minúsculas.

"Para a situação ficar crítica um banco grande teria que quebrar. E os quatro maiores bancos do país estão muito provisionados, com mais que o dobro de reserva de provisão do que eles têm de índice de inadimplência. Estão mais capitalizados hoje do que em 2008 [ano de início de uma crise financeira global] e a solidez só tem melhorado", diz.

Assim, quem seguir as orientações dos especialistas ouvidos pelo Valor Investe para escolher seu CDB, LCI ou LCA e tem menos de R$ 250 mil aplicados tem todos os motivos para dormir tranquilo.

  • Compartilhe




ACESSE SUA ÁREA LOGADA

CRIAR CONTA

ESQUECE OS SEUS DETALHES?

TOPO