RIO — Valores altos e financiamentos longos fazem com que o mercado imobiliário seja o primeiro a sentir uma crise e o último a sair dela.
Mesmo que haja algum dinheiro em conta, o período de vacas magras exige cautela e posterga o sonho da casa própria — é hora, afinal, de se garantir com uma reserva financeira. Contudo, com indicadores mais positivos e taxas de juros menores neste ano, as construtoras voltaram a tirar projetos do papel para erguê-los pela cidade.
Para o presidente da Associação de Dirigentes do Mercado Imobiliário do Rio (Ademi-RJ) e da Brasil Brokers, Cláudio Hermolin, a lenta retomada deve acontecer ao longo do ano e, principalmente, nos mercado extremos, em imóveis ou muito baratos ou de alto padrão.
— Acreditamos que a retomada em 2018 acontecerá no setor de imóveis acima de R$ 1 milhão, pois o mercado imobiliário é muito sensível à macroeconomia e, diferentemente do varejo, não reage rapidamente aos impulsos. A expectativa é de que o mercado melhore até o fim do ano. O programa Minha Casa, Minha Vida continua no ritmo de antes e é o único que passou à margem da crise — afirma Hermolin.
Diante do cenário que une mais dinheiro na conta e retomada da confiança, segundo ele, o aquecimento do setor deve acontecer principalmente nos bairros da Zona Sul.
— A Zona Sul é um mercado diferente, pois, devido à falta de espaço, sempre tem demanda. Sabemos de lançamentos residenciais para este ano previstos para Ipanema, Leblon, Jardim Botânico, Flamengo, Botafogo e Laranjeiras. São cerca de 14. Para imóveis comerciais, a recuperação vai demorar mais.
O Leblon é o bairro que mais deve receber investimentos neste ano. A Mozak, por exemplo, tem dois já anunciados e a Precisão abriu um espaço de vendas de imóveis exclusivo para no bairro. Quem também aposta ali é a Brasil Brokers, que tem lançamentos previstos para Jardim Botânico e Largo do Machado, e a Inti Desenvolvimento Imobiliário, que no ano passado lançou um prédio na Urca e outro no Humaitá — em 2018, a aposta é no Leblon e na Gávea.
Nenhuma construtora quer dar muitos detalhes sobre seus futuros empreendimentos. Com a disputa acirrada pelos terrenos restantes na parte mais nobre da Zona Sul, falar demais pode estragar a negociação. Contudo, de maneira geral, são prédios de poucos andares, luxuosos e espaçosos.
Carolina Lindner, gerente comercial da Mozak, diz que o foco da construtora (cujo nicho é a Zona Sul) é lançar quatro ou cinco empreendimentos por ano.
— Mas depende pois não há muitos terrenos na Zona Sul. Estamos para lançar em junho ou julho e procurando novos terrenos até o fim do ano. Esta região tem liquidez mas não tem lugares para construir — pontua Carolina.
Outros Bairros Na Mira - Entre os poucos terrenos que ainda resistem às investidas, estão aqueles que pertencem a antigos moradores — que já deixaram claro que não arredarão pé enquanto viverem — e os postos de gasolina, muito cobiçados nas esquinas mais caras da região.
Com isso, há um movimento das construtoras investirem nos arredores das regiões mais nobres. Não à toa, Botafogo, antes conhecido como “bairro de passagem”, hoje é disputado pelas construtoras. Para se ter uma ideia, nos últimos três anos, entre todos os bairros, Botafogo é o que mais se destaca, com oito novos prédios. Lagoa e Leblon empatam o segundo lugar, com quatro lançamentos cada no período.
A Mozak, por exemplo, está expandindo a sua atuação para outros bairros, como Botafogo e Flamengo.
Para André Kiffer, sócio-diretor da Inti Desenvolvimento Imobiliário, os investimentos das empresas antes focados na Zona Norte, agora, passam para a Zona Sul:
— O cliente da Zona Sul nunca deixou de comprar, pois sempre viu o imóvel como um investimento a longo prazo. Em anos recentes, porém, houve procura muito menor porque a questão era outra: em que investir o dinheiro.
Segundo ele, com a crise, o cliente escolhe com mais cuidado onde gastar e está mais exigente.
— Na Urca, por exemplo, era essencial ter vaga de garagem. Tanto que tínhamos previsto lazer para a área comum e tivemos que mudar o projeto. Já no Humaitá, que tem um público mais jovem, a demanda era por área de lazer e dependências para empregados — relata Kiffer.
A RJZ também está com lançamentos previstos para Flamengo e Laranjeiras. Rogério Zylbersztajn, presidente da empresa, tem algumas ressalvas:
—Estamos olhando o mercado com precaução pois a retomada tem sido muito lenta. A Zona Sul não foi tão afetada, analisamos com cautela os investimentos. Às vezes, o terreno é muito caro e não viabiliza o investimento.
Marcos Saceanu, diretor-presidente da Piimo (que lançou recentemente um residencial no Flamengo), também acredita que o que mais pesa em um empreendimento na Zona Sul é a localização.
— A Zona Sul é uma região com mais procura do que oferta, até pela geografia. Então quando se tem uma oferta e um produto mais especial, há dupla escassez. Nunca haverá muitos projetos por lá, mas estes sempre serão bons.