As incertezas futuras e o impasse quanto ao Projeto de Lei dos distratos – rejeitado pela comissão do Senado nesta semana – podem aumentar os juros do crédito imobiliário ao longo dos próximos meses. A projeção de melhora mais significativa fica só para 2019.
Os últimos dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), porém, apontam que de janeiro a maio deste ano os empréstimos totais – tanto para construção quanto para aquisição – somaram R$ 19,794 bilhões, um aumento de 18,7% em relação ao mesmo período de 2017 (R$ 16,760 bilhões).
“Ainda que seja necessária uma política econômica mais racional em 2019, o crédito imobiliário é uma atividade de médio e longo prazo e depende de alguns fatores que estão por vir nos próximos meses”, comenta o diretor executivo da associação, Filipe Pontual.
Entre as condições de mercado, o executivo reforça a necessidade de andamento do Projeto de Lei dos distratos – que foi rejeitado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) no Senado e, agora, aguardo um novo relator para dar um parecer no plenário.
“Se o assunto continuar desregrado ou não houver um acordo equilibrado, várias incorporadoras já afirmam que ou vão retrair ou construir menos e com maior cautela”, complementa Pontual.
Para o superintendente executivo de negócios imobiliários do Santander, Fabrizio Ianelli, no entanto, as perspectivas e uma mudança no Congresso a partir de 2019 trará novo fôlego ao projeto.
“Novos mandatos e um novo governo podem ser importantes para que pilares diferentes de recuperação sejam engajados. De qualquer forma, o assunto é importante e tem que estar na pauta. Não dá, de maneira alguma, para continuar do jeito que está hoje”, afirma.
Já do lado dos juros, a diretora da Akamines Negócios Imobiliários, Daniele Akamines, reforça que mesmo com as projeções de aumento na taxa básica de juros para 2019 com a melhora da atividade econômica, o ambiente para alavancar o setor é positivo.
“Mesmo que a Selic aumente, ela não deve voltar aos patamares de antes e, em contrapartida, vemos os preços dos imóveis voltando à normalidade, depois de subirem muito nos últimos anos”, completa.
Em termos de custo de crédito, porém, Ianelli pondera um cenário diferente. “O mercado está volátil e, até agora, não há resposta suficiente na poupança ou na curva longa de juros. Se a previsão do mercado de possível alta na Selic se concretizar, isso pode, sim, impactar na precificação desse crédito nos bancos”, afirma o superintendente.
De acordo com os últimos dados do Banco Central, por exemplo, a captação líquida da poupança de janeiro a junho de 2018 foi de R$ 7,35 bilhões, o maior desde os seis primeiros meses de 2014.
“Apesar de alguns indicadores, como o emprego, precisarem de melhora, há um “funding melhor e o mercado se recupera, puxado, principalmente, pelas casas populares. Isso continua uma tendência”, reforça Akamines.
Funding do setor - Do lado do funding, os especialistas comentam as boas projeções em relação à Letra Imobiliária Garantida (LIG), aprovada em maio deste ano.
Segundo Ianelli, do Santander, mesmo que a LIG venha para “colocar em prática a disciplina de funding alocado em longo prazo”, alguns pontos ainda precisam de atenção.
“A B3 precisa estar pronta para fazer as emissões e é preciso uma economia mais estável. O sentimento é otimista, mas é preciso condições para que a LIG vire uma realidade robusta”, reitera o executivo.
Para Akamines, por sua vez, as questões relacionadas ao setor só devem ter resultado nos “médio e longo prazos”.
“As discussões são positivas, mas não acredito que haja espaço para a aprovação do projeto dos distratos neste ano e, em relação à LIG, é preciso mais detalhes para que funcione. O resultado já aparece, mas só deve ficar mais forte em 2019”, conclui a diretora.