(Valor Econômico – Finanças – 29/05/2019)
Gustavo Ferreira
Muito se fala da tal "onda conservadora" que cobriu o País desde as últimas eleições. Mas quando olhamos para as finanças pessoais dos brasileiros, esse povo tão apaixonado pela caderneta de poupança, não há grandes novidades - o conservadorismo sempre esteve lá. Para quem já passou dos 60 anos, então, é quase a regra.
Levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostra que apenas 58,7% dos brasileiros acima dos 60 têm algum tipo de investimento. E, dessa parcela, nada menos que 90,1% têm suas economias aplicadas na poupança - bem acima dos 75% quando consideramos investidores brasileiros de todas as idades.
Entre os outros 10% de investidores com mais de 60 anos, a maior parte se divide entre aplicações em títulos privados, como debêntures, CDBs e letras de crédito (2,9% do total); fundos de investimentos, como multimercados, cambial e de ações (2,8%); e planos de previdência privada (2,8%).
Aqueles que escolhem aplicar diretamente em ações de empresas listadas em bolsa ou em títulos públicos vendidos pelo Tesouro Direto são muito poucos, 0,8% e 0,7%, respectivamente.
Tamanho conservadorismo, no entanto, antes de ser um problema, reflete os vários anos de vida corridos. E pode ser explicado por pelo menos dois fatores, na avaliação da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar).
O primeiro deles, as várias crises econômicas ao longo de décadas. As entradas e saídas de planos econômicos e novas moedas, além de uma inflação de guerra, cristalizaram a cautela como a principal característica desse público. O horizonte mais curto de tempo pela frente é outro fator, uma vez que funciona como um limitador natural na busca por aplicações mais arriscadas e, potencialmente, com maior chance de perdas.